O Airbnb começou pequeno, como a maioria das grandes empresas ou ideias disruptivas que causam mudanças drásticas no mercado. Estamos falando de um tempo entre 2007 e 2008, quando dois estudantes recém-graduados de São Francisco decidiram alugar três colchões de ar no flat em que moravam.
A ideia dos dois jovens empresários era simples. Uma importante conferência internacional estava acontecendo na cidade, e os hotéis estavam explodindo com a demanda. Então, eles abriram o flat para os viajantes que não conseguiam encontrar hotéis vagos ou que procuravam por alternativa mais baratas.
Hoje, o Airbnb cresceu tanto a ponto de ser comparado com grandes players do mercado, com mais de 3 milhões de quartos distribuídos em 190 países, quase o triplo da Marriott. Uma matéria do Panrotas chegou até mesmo a mencionar a empresa como “a maior rede de hospedagem do mundo”!
Porém, podemos mesmo dizer que o Airbnb é um novo inimigo da hotelaria? Ou existem oportunidades nesta história? Separei alguns pontos centrais para entendermos esse cabo de guerra:
Quem é o hóspede do Airbnb?
Para dizermos se a hotelaria está perdendo hóspedes para o Airbnb, é preciso analisar o perfil dos viajantes que escolhem a plataforma e os motivos pelos quais a preferem.
Em um estudo publicado pela Morgan Stanley Global Insights, foi concluído que grande parte do público do Airbnb é de viajantes a lazer a procura de hospedagens mais baratas. Os outros fatores de escolha incluem: localização, experiências autênticas, cozinha própria, individualidade e facilidade em reservar.
É certo que, por enquanto, grande parte das viagens corporativas ainda são feitas em acomodações mais tradicionais e apenas 10% das reservas do Airbnb são resultado de viagens a negócio.
Recentemente, em um estudo encomendado pelo Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), revelado com exclusividade à Época Negócios, 55% das reservas em hotéis são feitas no mercado corporativo.
Para Orlando Souza, presidente da FOHB, esse número “mostra que a empresa ainda busca por opções de serviços mais tradicionais no mercado. Viajantes de negócios não buscam outras alternativas”. No entanto, é possível que este cenário mude com a popularidade do “bleisure travel”, que mistura viagens a negócios com lazer.
O Airbnb se aproxima da hotelaria com novas parcerias
Em fevereiro de 2018, o Airbnb passou a incluir hotéis boutique e pousadas em sua plataforma. As novas opções de hospedagem foram vistas como uma trégua ao setor hoteleiro e faz parte da estratégia da empresa de hospedar 1 bilhão de pessoas nos próximos 10 anos.
A concessão aumentou a oferta de mais de 24 mil quartos e foram incluídas 180 mil pousadas na plataforma. No entanto, não é qualquer hotel que pode se cadastrar no Airbnb.
A empresa tem critérios rígidos quanto à sua participação, que inclui uma série de especificações. Algumas das qualidades que o Airbnb exige dos hotéis é aproximação com a cultura local, refletida no design dos quartos, e uma identidade local forte que o diferencia das outras propriedades.
Nesse sentido, alguns hoteleiros veem o Airbnb como uma oportunidade, não como um inimigo. A plataforma seria apenas um novo canal de distribuição, com uma das comissões mais baixas do mercado. Enquanto que na Booking e Expedia podem chegar até os 15%, a taxa cobrada pelo Airbnb é de 3%.
Porém, não é só os hotéis que estão enxergando oportunidades de negócios. Para o CEO da Omnibees, empresa de solução para distribuição hoteleira, o Airbnb é uma oportunidade para hotéis aumentarem suas receitas. No final do ano passado, a Omnibees lançou a integração do seu motor de reservas à plataforma.
O impacto do Airbnb nos programas de fidelidade
O Airbnb é tudo sobre experiências locais. Os viajantes mais jovens que procuram por hospedagens pela plataforma querem vivenciar momentos únicos e conhecer pessoas novas, oportunidades que em hotéis mais tradicionais eles jamais teriam.
Em respostas, grandes redes hoteleiras estão adaptando seus programas de fidelidade para incluir bônus mais atraentes para esse perfil de viajante.
Além da oferta de estadias gratuitas e de acomodações mais luxuosas, os hóspedes podem escolher aulas conduzidas por um astro do golfe, por exemplo, ou aulas de culinária com acompanhamento de um chefe famoso – experiências que vão colocá-lo em contato direto com celebridades.
No programa de fidelidade da Marriott, por exemplo, é possível dar lances com seus pontos de fidelidade na chance de participar desses cursos com vagas limitadas. A empresa notou que os hóspedes preferem gastar mais pontos por esse tipo de aula do que gastar menos por uma semana gratuita no hotel.
No fim do dia, o quarto é apenas um quarto. O viajante valoriza muito mais as experiências e memórias que faz durante as viagens e o seu hotel pode ser o responsável por proporcionar essa oportunidade.
No ano passado, o Airbnb anunciou seu próprio programa de fidelidade, o “Superguest”, porém depois de um ano ainda está em fase de desenvolvimento e recebendo sugestões da comunidade. Talvez em 2019 veremos o lançamento oficial do programa, melhor ficar de olho!
Airbnb vs hotel: fim ou recomeço?
A rivalidade entre esses dois meios de hospedagem é muito parecida com a chegada do Uber. De início, foi uma briga incessante de taxistas, que acreditavam na extinção da profissão por causa do aplicativo.
Porém, sabemos que não foi isso que aconteceu. O que vimos foi a evolução do mercado, aberto a novos competidores e à melhoria de um serviço que estava estagnado pelo monopólio.
O mesmo está acontecendo com a hotelaria, no mundo e no Brasil. O Airbnb está se consolidando no mercado nacional, e não estamos nem perto de ver a hotelaria acabando. Agora, podemos deixar de lado a antiga rivalidade e seguir em frente.
O que observamos é a hotelaria tradicional se adaptando, e com Airbnb ou não, o mercado ainda está crescendo. O melhor nesse caso é aprender com a competição, e quem sabe não criar parcerias?
Em 2018, muitas novidades foram incorporadas à plataforma que nos fizeram acreditar em uma coexistência nos mesmos termos que as OTAs. Agora, podemos deixar de lado a antiga rivalidade e seguir em frente.